06 agosto 2006

estado da nação

a semana passada ficou marcada pela divulgação da entrevista que luis montez deu a ana sousa dias na 2:. e digo marcada porque aquela entrevista dava uma excelente reportagem sociológica do que tem sido a música em portugal nos últimos 20 anos.
antes de mais digo.vos que admiro a postura empreendedora do empresário. luis montez tem gasto o seu tempo a construir uma espécie de império da música, contando já com três rádios (entre as quais a radar) e a maior promotora de espectáculos do território. e admiro também que este engenheiro de formação consiga manter uma bipolaridade no negócio: ganhar dinheiro com nomes feitos e ajudar à promoção de novos artistas, muitos deles de um espectro musical bastante complexo.
o que me chateia é que luis montez reduza tudo a "eu fiz, eu faço, eu vou fazer". as palavras do empresário, directas e acutilantes, determinam claramente o que se ouve nos nossos palcos. se luis montez quiser encher o pavilhão atlântico com o jack johnson, ele enche.o. se luis montez quiser que a radar diga que os she wants revenge foram a sensação de austin (ao qual luis montez assiste todos os anos), a radar di.lo. chega ao ponto de afirmar que vai encher o atlântico com o josé gonzález (reporto.vos para a minha crítica a veneer, para que atentem no meu presságio).
no fundo a música em portugal é isto. está nas mãos de um homem.
e enquanto esse homem detiver a capacidade quase autocrática de decidir aquilo que vamos ouvir durante a temporada (ao qual não é alheia a credibilidade que conquistou enquanto promotor) há muito boa música que se vai limitar a pequenos palcos ou à ausência total do circuito. tenho esperança que os últimos fracassos (depeche mode, hype@tejo, sigur rós) ajudem a equilibrar um pouco mais a balança. tem de haver lugar para o espirito crítico. e tem de haver lugar sobretudo para uma educação musical menos personalizada do dito povo.
porque isto com luis montez não há lugar para possibilidades ou enganos: ele é que faz.

2 comentários:

Anónimo disse...

Também admiro a capacidade empreendedora do genro do nosso Presidente, mas chegou-se a uma situação de quase monopólio, uma espécie de La Piovra do agenciamento. Espero que isto mude em breve. No entanto, agradeço ao senhor a existência da Radar e coloco a questão: como seria Portugal sem o Luís Montez?

Anónimo disse...

eu acho que portugal deve.lhe o desenvolvimento de uma indústria de agenciamento de concertos e de uma cultura de oferta que muitas grandes cidades europeias não têm. disso não há dúvida. mas acho que faz falta uma concorrência especializada, ou, pelo menos, uma prospecção de mercado mais equilibrada.
lanço alguns nomes de peso que nos têm feito falta: interpol, liars, tom waits, the white stripes, bruce springsteen...