não me foi muito fácil corresponder à solicitação que o luís me fez.
digo desde já que me deu um nó na garganta contrariar a interrupção a que tinha sujeitado o a new order.
mas, cá de longe, fazer esta crítica aproxima.me de portugal. não só porque neste momento estou 'emigrado'mas sobretudo porque falamos de música feita aí.
regra geral eu odeio a música portuguesa. ou melhor, odeio o rock português. porque acho que a língua não é apropriada e porque, geralmente, os intérpretes não são famosos. os que mais me surpreenderam nos últimos anos foram aqueles que adoptaram o inglês. falo dos x-wife, dos wray gunn ou dos parkinsons, para dar alguns exemplos.
clarabóia, o primeiro avanço de azevedo silva cheira a um rock underground sujo e despretensioso que podia ter sido feito num outro sítio que não o nosso. há qualquer coisa da escola pós-rock escocesa em o início. há qualquer coisa dos gy!be na mutação compassada de charlie. mas há tanta coisa da música americana de autor e de escola no excepcional devil's town, que só nos apetece perguntar ao luís de onde é que ele tem andado a beber.
é que há também um pouco de tool. e estão lá as referências mais ou menos explícitas a um pouco da música de influência negra que william elliott whitmore, que nunca me cansarei de citar neste blog, anda a fazer. há até, estranhamente, um pouco do mundo paralelo que os ornatos violeta criaram no nosso rock cansado e fustigado por colheitas péssimas.
isto tudo para dizer que clarabóia é um bom manual.
é claro que há imperfeições. bem como algumas indefinições. diria que falta ao luís dar um pouco mais de equilíbrio a esta demo, se o objectivo for o de criar um álbum.
no fundo, fazer desta série de canções, num formato mais extenso, um elemento mais uno e um pouco menos requebrado em diferentes pedaços sonoros. a ideia serve também no caso de o futuro passar por uma criação completamente diferente, como é óbvio.
mas, faça ele o que fizer, espero que a melancolia a que se entrega com a guitarra, que a aspereza e lucidez com que compõe, e sobretudo a verdade do gosto que é fazer música que transpõe para as canções, nunca se percam.
clarabóia não vai, provavelmente, chegar aos ouvidos de muitas pessoas. é assim o mercado, são assim os gostos,
é assim, enfim, a vida.
mas também não precisa. já marcou o seu lugar.
e é isso o mais importante.
7/10
12 outubro 2006
clarabóia, azevedo silva
por
joséreisnunes
à(s)
11:26 a.m.
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2 comentários:
Foi uma interrupção por uma boa causa. Bem merecida.
Muito obrigado por teres perdido um tempinho e por teres voltado a escrever qualquer coisa. Gostei muito do texto e ainda bem que voltaste. Abraço.
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