sou facilmente corrompível. basta dizerem que a minha opinião vos interessa e dou.vos trela para uma semana. o jorge cruz corrompeu.me. e como é que eu poderia não me deixar corromper por um tipo que conta a estória da sua vida daquela maneira?
a gentileza do jorge vai.me servir, sobretudo, para algumas considerações sobre a música folk portuguesa.
goste.se ou não daquilo que significa o percurso ascendente da flor caveira nos últimos 2 anos, não podemos deixar de ir ao centro da questão. estes senhores estão a redescobrir portugal. com maior ou menor ortodoxia e com maior ou menor perspicácia, a flor caveira parece apresentar.se como um movimento a querer refundar a música portuguesa. não interessa para aqui se gosto ou desgosto do b fachada ou do tiago guillul: abstraio.me dos nomes e vejo a ideologia. ou, se quiserem, um ideário de combate, vulgar acção.
essa opção, mais do que um capricho, parece.me resultar do facto de sermos orfãos de movimentos substanciados, em geral, e da folk, em particular. ao contrário de países como os eua ou a inglaterra, que ostentam percursos lógicos na música popular, em portugal encontramos sempre as coisas um pouco avulso. nunca tivemos um dylan ou um nick drake a definir os zeitgeist. e um zappa ou um tom waits para os desconstruir. o nosso gosto andou sempre a reboque do fado, a nossa música popular andou sempre atrás do que nos chegava do reino unido, e a nossa folk derivou, por culpa óbvia da condição política, para a canção de intervenção. não me interessa agora discutir se nos saímos melhor ou pior. mas, de facto, não atingimos a consistência produtiva de outros países e nem a fase pop-atira.me-água-benta pode ser equiparada a um verdadeiro movimento. isso transpirou para os dias de hoje e estes músicos estão a fazer o que, provavelmente, devia ter sido feito depois da morte do antónio variações ou do fim dos heróis do mar.
os diabo na cruz, um supergrupo da flor caveira, estão a fazer com a folk aquilo que o joão coração faz com a chamada canção de autor. ou o que os golpes estão, noutro espectro, a fazer com a pop. redescobrir portugal em 2009. para mim um ep é sempre uma amostra pouco convincente. mas os 8 minutos de dona ligeirinha ep levam.me a uma conclusão. os diabo na cruz concorrem a um espaço que outros grupos já tentaram preencher. nenhum deles foi particularmente bem sucedido, sobretudo porque fazer música folk exige resolver os fantasmas que ficaram para trás e acertar na maneira de projectar música para o futuro. é claro que alguns venderam uns discos e acabaram por fazer uns quantos concertos, mas não deixaram uma marca que eu considere significante. para os diabo na cruz a balança pode, invariavelmente, tender para dois lados. eu diria que a primeira metade do álbum é agradável e enérgica - surpreendeu.me a dimensão escrita do álbum e os padres comem putos e os putos comem ratos será a frase do ano. a segunda metade do álbum deixa.me inquieto. fico a pensar o que é que poderá vir daqueles lados se a opção dos diabo na cruz for a de encetar uma revisitação da música portuguesa via corridinho do verão.
se fosse eu era por aí que seguia.
está lá tudo o que é preciso.
2 comentários:
Já escutei o disco na íntegra. Posso garantir que será um disco forte, com um alinhamento diversificado e com muito punch. O Cruz reuniu grande banda.
Cumprimentos do Almirantado.
fico à espera que chegue.
cumprimentos.
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