15 maio 2009

antony and the johnsons, coliseu lisboa

já confessei por diversas vezes que tenho muito pouca paciência para as conversas dos músicos sobre o povo português, o castelo de são jorge ou as aparições de fátima. por isso, e se a boutade de antony sobre obama e dick cheney lhe saiu relativamente bem, o certo é que as estorietas sobre sintra, sobre o poder das mulheres - e aí fiquei relativamente confuso apesar de reconhecer um transgender quando o vejo - ou sobre jesus reencarnado numa mulher que anda sobre a água, mais não fizeram que retirar tempo para pelo menos mais duas interpretações. o que foi uma pena porque em cima do palco estiveram aquilo que na verdadeira acepção da palavra se designa por músicos. os ambientes de maior cumplicidade entre artistas e público servem sobretudo os interesses de  intérpretes menores. não sendo o caso de antony e do sexteto que o acompanha em digressão ficou.me alguma raiva. 

moderada.
mas é claro que isto acaba por não influenciar de modo algum a ideia que formulei na última passagem do músico pela sala lisboeta: antony é um caso raro da pop actual e um dos poucos que consegue, nas actuações ao vivo, re-inventar as suas composições sem nunca perder o fio à meada da essência dos seus 3 álbuns de estúdio. contudo, como fiel apreciador do álbum homónimo, o primeiro da carreira de antony, desgosto bastante que hitler in my heart não faça parte do alinhamento de todos os concertos. 
no entanto, a noite de ontem era de the crying light. e o preâmbulo do concerto, na forma de actuação de uma bailarina butoh, serviu para dar consistência à linha conceptual do último long play do músico. e como é de luz que se fala quando se fala de antony, a noite só podia ter terminado como ele/ela a imaginou: com a sala às escuras e um foco sobre o piano, ao som de hope there's someone, hino maior de i am a bird now, música capaz de levar à histeria grande parte de um coliseu esgotado. 
o que me deixou definitivamente confuso.  

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